
“O meu povo está sendo destruído, pois lhe falta o conhecimento” (Oseias 4.6a – NAA)
Para início da nossa “conversa”, quero, já, de antemão, pedir escusas por tratar de um tema tão afeito aos evangélicos atualmente, posto que vou aproximar um problema de práticas atuais que estão grassando nesse meio.
Entretanto, a despeito disso, o problema não é inerente somente a esse nicho. As nuanças que se apresentam no meio evangélico, posto que está inserido na sociedade, também são desafios propostos em outras áreas da convivência humana.
Falo, nesta breve reflexão, sobre conversas afeitas ao que o trecho de um versículo de conhecido profeta, transcrito acima, nos desafiou: autodestruição por falta de conhecimento.
O tema, ironicamente, tem a ver com pessoas que se autodeclaram “profetas” e fazem “revelações” em diversas agremiações denominadas “evangélicas”. Tantas aspas não são à toa.
A prática é denominada por outros que não a reconhecem como “profetada”. Nesse jeito de encantar os fiéis, os “profetas” fazem uma sessão de revelações em que mostram nomes e até Fs de pessoas presentes aos “shows”. Impressionam-se aqueles que estão mais frágeis emocionalmente, posto que, ao deparar-se com doença, desemprego, necessidades financeiras, crises das mais diversas ordens, o ser humano, normalmente, torna-se instável.
Gritarias, rodopios, línguas ininteligíveis (essas para aproximar ao que se denomina “dons de línguas”, em que pessoas falam línguas estranhas atribuídas a anjos) e outras manifestações teatrais fazem a plateia ir ao êxtase, com a simples revelação do nome de alguém presente.
Sem querer depreciar a fragilidade de alguém necessitado física e emocionalmente, os atos citados acima (ainda que superficialmente) são facilmente explicados por meio de uma simples verificação dessa prática no meio da charlatanice. Quem ainda não assistiu ao filme “Fé demais não cheira bem”, com Steve Martin no papel principal de um pastor charlatão itinerante, deveria dedicar um tempo a ver a película como uma aula. As práticas adotadas por ele e sua grande equipe (preparada tecnologicamente – e olha que falamos de tempos em que a internet ainda não reinava) são simplórias, se compararmos aos velhacos de hoje em dia. Certamente, muitos que assistiram ou assistirão ao filme poderão dizer que aquilo tudo é exagerado. Não chega a tanto. Mas, o que vemos hoje é incontavelmente maior.
Em conversas a respeito dessa prática de afirmar: “Deus está me dizendo e eu vou entregar”, ouvi uma pessoa especular que podemos escolher entre categorias de esquizofrênicos (com total respeito aos que têm esse transtorno) e de aproveitadores. Afinal, uns acham mesmo que ouvem a Deus.
Há, ainda, aqueles que estão se aproveitando do momento de total descrédito da igreja, e criam personagens cômicos para entreter e até mesmo ganhar muito dinheiro com isso. Alguns fazem questão (honestamente) de deixar claro que são personagens, ainda que pelo humor façam crítica (e justa!). Outros brincam com um jeito de deixar que pensem que seja sério. Em muitos casos, não fica difícil discernir. Principalmente para o povo que padece por falta de conhecimento.
Mas os que se aproveitam da falta de conhecimento do povo para engodá-lo descaradamente estão se proliferando muito, e aproveitando-se da ferramenta da internet. Sem contar a prática de evocar uma autoridade autodeterminada e a alusão a “número de seguidores” como critério de verdade.
Urge que façamos uma campanha de esclarecimento da importância do conhecimento. Especialmente para que o povo não padeça. Como disse uma vez Darcy Ribeiro: “A crise da educação no Brasil não é uma crise. É projeto”. Dessa forma, compreende-se que o povo manter a ignorância é interessante para alguns.
Para além disso, há a desonestidade, a falta de medo de Deus e o desrespeito total e completo ao outro. Somados a isso, vemos a anomia com relação ao tema.
Chego ao ponto de compartilhar, agora, a reflexão com outras áreas da sociedade, ainda que não nos seja possível aprofundar em cada uma delas. Por falta de conhecimento, aproveitadores ganham adeptos na área da política, da educação, do mundo corporativo, da saúde e tantas outras. Você não conhece, dentro desses nichos, práticas que, com explicações surreais, tentam desqualificar os estudos, as leis e as autoridades constituídas, para que se beneficiem os que se autoproclamam facilmente ou por arroubos de uma massa sem preparo, sem conhecimento, como os seguidores cegados?
Por fim, para que continuemos orientando no campo evangélico, como começamos, mas querendo que uma verdadeira voz profética, como começamos com Oseias, também fale à nossa sociedade, vamos lançar mão do profeta Zacarias, que disse em seu livro: “Eis que removerei da terra tanto os falsos profetas como o espírito imundo, a vontade que o povo tem de adorar imagens idólatras” (Zacarias 13.2b – KJA).
Somente para lembrar que Deus está no controle dessa nova Babel. Ela não prosperará. Mas fica o nosso desafio: buscar conhecimento e levar iluminação a quem tem sede e percebe toda essa balbúrdia.
Miserere Nobis.
Sandro Xavier
Linguista e Teólogo
Isso evidencia a importância da igreja ensinar, formar e discipular bem os seus membros, para que não sejam “como meninos, levados ao redor por todo vento de doutrina” (Efésios 4:14). O povo de Deus precisa ser instruído para discernir o que vem de Deus e o que é engano — pois nem todo líder que fala em nome de Deus está, de fato, fazendo a vontade d’Ele.
Obrigado, querido irmão João.
Abraço fraterno.
SX